sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Universidade e sociedade do entorno: alguma dicotomia das humanidades no Pimentas? Unifesp em debate

A permanência da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas no Bairro dos Pimentas tem sido objeto de debate, principalmente após as últimas semanas, quando um grupo anônimo de docentes entregou um dossiê à Reitoria da Unifesp [1]. O documento solicitou a saída da Universidade das atuais instalações para SP, alegando as dificuldades de acesso ao campus. Segundo o texto, a dificuldade de acesso impede que os alunos recebam a formação do projeto acadêmico original. Aprofundar este debate se faz necessário porque afirmações do dossiê não é a posição de toda a comunidade universitária, além de expressarem preconceitos.

Ficam as perguntas para alguns dos nossos doutores das Ciências Humanas, proposições possíveis para fundamentar a existência da EFLCH: há a intenção de aproximar o ensino, a pesquisa e extensão da vida real, mantendo a interação social com os moradores dos Pimentas? Teremos a oportunidade de investigar a partir da realidade concreta como se processam fenômenos de diferentes ordens, estas intrínsecas aos estudos das humanidades e intervir em questões sociais? Há alguma dicotomia entre Universidade e a sociedade do entorno que impeça o desenvolvimento da instituição?

O que se entende por diálogo com variadas modalidades de cultura formal?  Como realizar a democratização dos saberes? Senhores, qual concepção de cultura defendem? Por que esta Escola nos ensina descrever e analisar à luz de diferentes teorias manifestações discriminatórias impostas socialmente? Somos alguns de seus “alunos” semianalfabetos? Frente aos acontecimentos, nota-se cada vez mais a necessidade de construir uma Universidade crítica e rica de reflexão.

Alguns aspectos históricos, sociais e políticosda criação da Unifesp Guarulhos

O Campus de Guarulhos foi inicialmente reivindicado por movimentos sociais da região devido à ausência de uma universidade pública na cidade. Com a conveniência eleitoral, a prefeitura e o governo federal, ambos dirigidos pelo PT providenciaram os trâmites para implantação do campus em 2007. A expansão da Universidade Federal de São Paulo conhecida pela tradição na área médica, ampliou-se com a adesão ao polêmico Projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

O orçamento previsto para aumento de vagas e criação de novos campi universitários, segundo o Programa, seria apenas o acréscimo de recursos limitado a vinte por cento do orçamento das despesas de cada universidade. Como aconteceu esta distribuição orçamentária na Unifesp? Segundo o Reitor Walter Manna Albertoni, o motivo do prédio definitivo do campus de Guarulhos não ter sido construído não foi falta de dinheiro. A culpa muitas vezes do atraso da construção do edifício é atribuída à morosidade do Estado para concluir processos burocráticos. A falta de planejamento é outro argumento recorrente utilizado por diversas pessoas.

Algumas hipóteses colocadas, o fato é o de que não havendo verbas suficientes para expansão universitária, os impactos e consequências do Reuni foram imediatos em todas as universidades. Considerando estas hipóteses, válidas ou não, e o fato evidenciado do Projeto de Expansão, verifica-se que os problemas estruturais da EFLCH não são decorrentes de sua localização no Bairro dos Pimentas.

Apontamentos sobre a infraestrutura universitária e a greves estudantis

Outra questão a ser colocada é a falta de infraestrutura, a qual interfere diretamente na formação dos futuros profissionais. Por exemplo, a Universidade não conta com laboratórios. É necessário pontuar também os problemas de permanência estudantil como a falta de moradia e creche, ou o transporte e restaurante universitário que são inadequados. Estes problemas de permanência são os principais fatores da evasão. Como podemos observar, o estudante com “melhor preparo” que desiste de frequentar a Universidade, e supostamente, a instituição receberia estudantes “semialfabetizados” não é um dos problemas centrais. Há muitos anos discute-se a elitização da universidade brasileira e a exclusão da maioria da juventude do ensino superior.

As greves estudantis de 2007, 2008, 2010 se esforçaram, e a atual greve de 2012 que ultrapassa quatro meses, também se empenha no sentido de reivindicar a garantia do acesso e permanência de todos os estudantes no ensino superior público contra a lógica mercantilista de educação e elitista implementada nos últimos anos. É por isso que hoje, os estudantes sofrem processos políticos, judiciais e administrativos da Justiça e da Universidade, por lutar por um direito tão fundamental: continuar os estudos.
Por fim, é importante que toda a sociedade, acompanhe, debata e entenda a importância da Universidade permanecer em um bairro operário construído por muitos trabalhadores, e discuta as funções social, cultural e educacional da Unifesp Guarulhos para os moradores da região.

Executiva Nacional dos Estudantes de Letras/Seção SP,
São Paulo, 09 de agosto de 2012.


[1] Consta no Dossiê a data de 25 de julho. Posteriormente, Juvenal Savian Filho, docente do Curso de Filosofia declara ser o coordenador do documento.

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