A
permanência da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas no Bairro
dos Pimentas tem sido objeto de debate, principalmente após as últimas
semanas, quando um grupo anônimo de docentes entregou um dossiê à
Reitoria da Unifesp
[1].
O documento solicitou a saída da Universidade das atuais instalações
para SP, alegando as dificuldades de acesso ao campus. Segundo o texto, a
dificuldade de acesso impede que os alunos recebam a formação do
projeto acadêmico original. Aprofundar este debate se faz necessário
porque afirmações do dossiê não é a posição de toda a comunidade
universitária, além de expressarem preconceitos.
Ficam
as perguntas para alguns dos nossos doutores das Ciências Humanas,
proposições possíveis para fundamentar a existência da EFLCH: há a
intenção de aproximar o ensino, a pesquisa e extensão da vida real,
mantendo a interação social com os moradores dos Pimentas? Teremos a
oportunidade de investigar a partir da realidade concreta como se
processam fenômenos de diferentes ordens, estas intrínsecas aos estudos
das humanidades e intervir em questões sociais? Há alguma dicotomia
entre Universidade e a sociedade do entorno que impeça o desenvolvimento
da instituição?
O
que se entende por diálogo com variadas modalidades de cultura formal?
Como realizar a democratização dos saberes? Senhores, qual concepção de
cultura defendem? Por que esta Escola nos ensina descrever e analisar à
luz de diferentes teorias manifestações discriminatórias impostas
socialmente? Somos alguns de seus “alunos” semianalfabetos? Frente aos
acontecimentos, nota-se cada vez mais a necessidade de construir uma
Universidade crítica e rica de reflexão.
Alguns aspectos históricos, sociais e políticosda criação da Unifesp Guarulhos
O
Campus de Guarulhos foi inicialmente reivindicado por movimentos
sociais da região devido à ausência de uma universidade pública na
cidade. Com a conveniência eleitoral, a prefeitura e o governo federal,
ambos dirigidos pelo PT providenciaram os trâmites para implantação do
campus em 2007. A expansão da Universidade Federal de São Paulo
conhecida pela tradição na área médica, ampliou-se com a adesão ao
polêmico Projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
(Reuni).
O
orçamento previsto para aumento de vagas e criação de novos campi
universitários, segundo o Programa, seria apenas o acréscimo de recursos
limitado a vinte por cento do orçamento das despesas de cada
universidade. Como aconteceu esta distribuição orçamentária na Unifesp?
Segundo o Reitor Walter Manna Albertoni, o motivo do prédio definitivo
do campus de Guarulhos não ter sido construído não foi falta de
dinheiro. A culpa muitas vezes do atraso da construção do edifício é
atribuída à morosidade do Estado para concluir processos burocráticos. A
falta de planejamento é outro argumento recorrente utilizado por
diversas pessoas.
Algumas
hipóteses colocadas, o fato é o de que não havendo verbas suficientes
para expansão universitária, os impactos e consequências do Reuni foram
imediatos em todas as universidades. Considerando estas hipóteses,
válidas ou não, e o fato evidenciado do Projeto de Expansão, verifica-se
que os problemas estruturais da EFLCH não são decorrentes de sua
localização no Bairro dos Pimentas.
Apontamentos sobre a infraestrutura universitária e a greves estudantis
Outra
questão a ser colocada é a falta de infraestrutura, a qual interfere
diretamente na formação dos futuros profissionais. Por exemplo, a
Universidade não conta com laboratórios. É necessário pontuar também os
problemas de permanência estudantil como a falta de moradia e creche, ou
o transporte e restaurante universitário que são inadequados. Estes
problemas de permanência são os principais fatores da evasão. Como
podemos observar, o estudante com “melhor preparo” que desiste de
frequentar a Universidade, e supostamente, a instituição receberia
estudantes “semialfabetizados” não é um dos problemas centrais. Há
muitos anos discute-se a elitização da universidade brasileira e a
exclusão da maioria da juventude do ensino superior.
As
greves estudantis de 2007, 2008, 2010 se esforçaram, e a atual greve de
2012 que ultrapassa quatro meses, também se empenha no sentido de
reivindicar a garantia do acesso e permanência de todos os estudantes no
ensino superior público contra a lógica mercantilista de educação e
elitista implementada nos últimos anos. É por isso que hoje, os
estudantes sofrem processos políticos, judiciais e administrativos da
Justiça e da Universidade, por lutar por um direito tão fundamental:
continuar os estudos.
Por
fim, é importante que toda a sociedade, acompanhe, debata e entenda a
importância da Universidade permanecer em um bairro operário construído
por muitos trabalhadores, e discuta as funções social, cultural e
educacional da Unifesp Guarulhos para os moradores da região.
Executiva Nacional dos Estudantes de Letras/Seção SP,
São Paulo, 09 de agosto de 2012.
[1]
Consta no Dossiê a data de 25 de julho. Posteriormente, Juvenal Savian
Filho, docente do Curso de Filosofia declara ser o coordenador do
documento.